Filme Drive
FILME DRIVE E O ANTI-HEROI
Começa em um assalto onde o motorista espera apenas 5 minutos. Revela bastante esperteza e uma certa vida na marginalidade, onde o personagem central é silencioso, quieto mesmo, e onde closes de perto são constantes, dando uma dimensão artística ao filme. O romance ou quase romance com a Irene revela a compensação do mal com o bem, da noite com o dia, porque o “Motorista” apenas vive à noite, pois de dia é piloto dublê de filmes. Ele é um herói humano, como diz a música eletrorock em momento romântico de Irene e seu filhinho com o Morotista. Assim a vida desse mecânico que incorpora o escorpião, sendo ainda uma versão astrológica moderna.
Já de começo o filme me agradou por ter um clima anos 80. Faz tempo que me identifico com filmes dos anos 70 e 80, por causa da arte pura e da redução de efeitos especiais, e o melhor, sem a computação gráfica que estraga filmes pós-modernos. As músicas são bem interessantes, e diferentes, uma vez que esse eletrorock europeu não faz muitos hits por aqui. E o Motorista fala pouco, o que me lembra a minha adolescência de tímido, ainda que sou do signo de escorpião, então guardamos uma casca e venenos desconhecidos, o que se torna pior a nós mesmos. Símbolos que conversam com escorpião são a serpente e o dragão, pra você ter uma ideia da simpatia dessa energia.
Mas frente ao fora que o protagonista leva de Irene, por seu marido presidiário porto-riquenho ser liberado da cadeia, o Motorista volta ao seu normal, deixando de ser o “bom moço” protetor de separadas mães solteiras e fala já no bar que faria um cara engolir seus dentes. Depois ele vem com a violência contra os capangas da máfia, que seu chefe serve com carros da oficina. Ele mesmo parece da máfia, e vou ver o livro para saber desses detalhes, já que o filme é obscuro a esse sentido. Dizem que o livro fala de sua infância e do que o fez ser tão violento. E assim o filme caiu bem no estilo Tarantino.
Boa fotografia no início e a Irene e o Motorista se cruzam na rotina moderna da vida, com seus carros e urbanidade. Gosto do filme por ter bom contraste. Para se regular a TV é muito sugestivo, nas cenas iniciais, principalmente aquelas dentro do prédio onde mora o escorpiano, que desfila a sua jaqueta com o picho bordado nas costas. E legal uma cena que o mafioso agiota vai emprestar dinheiro ao chefe do Motorista e apertas as mãos desse ele diz que “está com as mãos sujas”, o que foi boa sacada de roteiro. O roteiro tem poucas páginas pelo jeito, e achei natural esses diálogos, já que as pessoas não são papagaios, ainda mais um homem mecânico e motorista. Eu mesmo quando dirijo não falo muito, e sou às vezes silencioso, e noutros lugares acho que palavras sem sabedoria não têm sentido.
O filme é diferente da maioria, e as cenas de perseguição iniciais e as finais têm falhas, hora o carro está danificado, hora a velocidade não é alta, hora a os mesmos carros aparecem duas vezes em cenas diversas. Bom é o Mustang que é um carro esportivo mais acessível, o que mostra maior realidade no filme. O assalto para ajudar marido da Irene dá errado, e a perseguição aos mafiosos revela o verdadeiro anti-herói ou herói que é o Motorista, assim restando o amor não resolvido e a natureza de Escorpião, suas serpentes interiores e a vida isolada de motorista. Bom filme, apesar da violência demasiada poder colocar numa censura que limita quem assiste.
Filme sem grande metanarrativa, parece espelhar a simplicidade daquele cotidiano ligeiramente mais agitado em relação à medianidade que se é de esperar própria da sociedade americana. Quanto ao nível de violência,quiçá, traduza a exata medida do real em circunstâncias específicas, mas o que é excepcional sempre está inserido no interior do ordinário. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY
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