Educar não é apenas comprar o material

Educar não é apenas comprar o material


         Vemos na mídia em geral que a preocupação capitalista com a aquisição de material escolar toma suma importância nesse início de ano. Ficamos perplexos de como a preocupação familiar com o estudo toma importância, principalmente no aspecto econômico que toma o foco de interesse, por se entender ainda que apenas o estudo garante uma vida mais abonada. Sabemos que ganhar dinheiro depende de muitos fatores, e há pessoas semi-analfabetas que recebem bem mais que muitos “doutores”. Mas comprar material resolve todos os nossos problemas com a educação das crianças e adolescentes? Certamente que não, pois a escola é apenas parte da educação e os pais deveriam dar mais um suporte espiritual e moral aos seus filhos, bem como dar o exemplo e auxiliar em tarefas, mais do que apenas comprar cadernos com capas bonitas e canetas coloridas para agradar seus filhos.
         Problemas pedagógicos que podemos tratar. Primeiro que a escola vive uma crise disciplinar. Vemos cada vez mais a relação da violência nas escolas, depredação, relações de poder, falta de diálogo e uma disparidade imensa entre a vida e ideal das crianças e adolescentes e o formato quase prisional das escolas. Segundo que para cada tipo de aluno deve haver um professor, uns mais interventivos, outros apenas observadores, outros ainda mais com “jeito” de lidar com as crises de seus alunos, mais que seguir a apostila e apresentar a aula. Mas professores são heróis, e temos de construir estátua a cada um, reservar locais especiais em restaurantes, dar uma contraprestação maior em seus rendimentos. Terceiro que a falta de algum recurso material é suprida com inteligência, e que muitas vezes o bom professor consegue milagres com coisas simples, como alguma maquete de papelão, isopores, uma apresentação por computador,  música, violão e assim por diante. As escolas particulares e cursinhos já vêm fazendo isso há tempos, cantar, fazer piadas, usar de recursos tecnológicos e tudo mais. Mas o problemas educacional é geral, é mais que comprar ou não material.
         Outro fator é até onde os pais conhecem seus filhos. Sabemos que a vida adolescente esconde por natureza muita coisa, e nenhuma menina quer seus pais cuidando dela quando ela quer “ficar” com algum garoto, quando descobre sua afetividade. Também os ideais dos filhos parecem bem distantes daquele de seus pais. Uma educação para a felicidade deveria ser o ponto de partida, não apenas a caça ao tesouro das minas de ouro presentes em certos cursos de universidades. O Curso de engrenharia civil parece ser uma dessas novas buscas ao tesouro, mas pelo tempo e dedicação ao curso, nem todos terão êxito, e mesmo que até acabar já passaremos a Copa do Mundo, o PAC e mesmo a Olimpíada. Fato é que pais precisam se relacionar mais com filhos, com mais carinho e proximidade. Eu me lembro de em infância meu pai me ajudar em cálculos de matemática, e aquilo me ajudou muito em períodos posteriores. Também de na adolescência acontecer o contrário, eu ministrar aulas particulares ao meu pai quando este estudava para curso de Administração. E ainda ano passado ajudei meu pai em curso que este fazia junto a SENAC, de espécie de pedagogia para adultos. Fato é que uma simples cobrança já é um passo. Mas por outro lado, sempre deve haver alguma recompensa, senão as crianças vão se perguntar: “por quê estudar?”, se seus pais não dão bola.
         Educar é também um serviço moral e espiritual. Não quer dizer que se deva controlar o decote e a saia das meninas, ou os piercings e tatuagens dos garotos, mas que devem ter algum modelo de honestidade e relação social pacífica. Não só a escola, mas a educação é para a vida, para o trabalho, para os relacionamentos humanos, assim envolve as competências de saber se ligar com as situações mais difíceis que encontramos pela vida.  Lembramos com muito afeto de professores que nos foram algum modelo de comportamento ou de vida. Também devemos saber que falta a disciplina para se chegar a esse respeito social, a essa cidadania. É com tristeza que muitas escolas não têm um “ensino religioso” ou mesmo a antiga e extinta “educação moral e cívica”, que faz falta, mas que deveria ser adaptada para a realidade democrática (diferente da ditadura...). Esse auxílio espiritual as crianças, para que sejam felizes e aprendam a pensar por si mesmas, bem como aos adolescentes, para que “curtam” estudar e vivam a vida, aprendendo e experimentando as coisas, tendo apoio e sendo compreendidos em suas crises, que são normais nessa fase da vida. Mesmo em escolas alternativas da Holanda, onde cada aluno estuda as matérias que gosta, ou faz o que gosta, há a crítica deles mesmos de que precisam estudar várias “matérias” para poderem trabalhar e cursar a universidade (Basta ver o documentário na TV Escola). Já em nossas escolas vemos que o estudo que mais gostam é o “nenhum”. Isso reserva uma reflexão filosófica ( e ainda bem que essa “matéria” agora existe nas escolas..) e assim talvez cabe a essa a discussão central de como deve ser a escola de hoje, para alunos de hoje, não para dinossauros pedagógicos.  Fato é que comprar material resolve muito pouco, e que o espiritual e moral dessas crianças é que deve ser o foco central, a participação da família em sua emotividade na vida, em problemas e sua resolução, competência, mais do que presentear com canetas coloridas e brinquedos, para se agradar alguém que se negligencia pelo resto do ano.


Fontes:

Tese de Doutorado  - Pedagogia anarquista e o ensino da geografia – por Antonio Elísio Garcia Sobreira

Senac. Dr. SC. Concepções pedagógicas. 2. ed. rev. Atual / Lidnei Ventura. Florianópolis: , Senac/DR/SC/NTE., 2001. 52 pp. Inclui bibliografia. (Fundamentos teóricos filosóficos).

Senac. Dr. SC. Filosofia da educação. 2. ed. rev. Atual / Paulo Hentz. Florianópolis: , Senac/DR/SC/NTE., 2001. 48 pp. Inclui bibliografia. (Fundamentos teóricos filosóficos).



Comentários

  1. Educar é algo hiper complexo e demasiado difícil sem amor. Mas quando o amor está presente tudo fica tão transparente e simples que se tem a impressão de que as coisas caminham sozinhas. Parabéns pelo texto. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

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  2. Oi Mario,
    Como é que meu trabalho te ajudou neste teu texto? Abraços
    Antonio Sobreira

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    Respostas
    1. boa tarde antonio. Chamo-me mariano soltys..e sou filosofo e advogado.. E autor de dezessete livros. Mas seu material foi algo superior que encontrei e achei interessante cita-lo..mesmo que iluminando meu breve artigo. Lembrei de que um tanto futil apenas se preocupar em comprar o material..e isso seria apenas alimentar os donos do poder e essa inteligentzia que manda se comportar como massa consumista. Falei de professores que com pouco quebram esse velho paradigma liberal..que vem nos "educando""". Seu livro mostra algo superior.. E citei-o como homenagem.

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