Silêncio, solidão
Eu
estava lendo um livro sobre depressão e entre motivos que colaboram,
fora desemprego, luto e outros, é a solidão. Não sou depressivo,
mas por outro lado me admiro como suportei tanta solidão. Certamente
a falta de popularidade me acompanha durante a vida, seja na
juventude que não curti, seja na maturidade que ainda vem amarga.
Contudo, venci a solidão com a ataraxia
(ser imperturbável).
Aconteceu
que fui esses dias a locadora a fim de procurar um filme de comédia
e percebi que todos que lá estavam eram casais. Sorrateiramente saí
então, sem alugar algum título ou tratar do livro que escrevi sobre
filmes, para lá colocar à venda. Sim, escrevi um livro sobre
filmes, Filmes e Filosofia, comentando vários de diversas épocas,
inclusive sobre amor. Essas críticas de filmes podem ser vistas em
meu blog www.filmesefilosofia.blogspot.com.br.
Mesmo
sendo simpático, paciente e humilde, pareço desinteressante. Ajudo
as pessoas, sou honesto. Por outro lado, na TV essas semanas se
comentou de mulheres apaixonadas por um galã virtual, que as
enganavam, de modo a conseguir vídeos sensuais delas e as
chantagear. Esse tipo de galã parece atrair. Noutro caso, um rapaz
foi enganado em Curitiba, pulando de prédio. Lembro-me de
personalidades da história que foram sozinhos, e parece que entre os
mais curiosos estão filósofos. Schopenhauer lançou a moda de criar
poodles, Nietzsche disse a amigo casado que enquanto esse possuía um
ninho, ele vivia numa caverna, e Kant morreu casto (que é palavra
que surge de castigado).
Também
o silêncio é meditativo, tem certas propriedades curativas.
Silencia a mente e o corpo. Penso, por outro lado, nas pessoas que se
vêm sempre acompanhadas, assediadas e envoltas em mil tentações,
certamente seria difícil a elas conhecerem a meditação. A reflexão
da humanidade começou pelo conhecimento de si mesmo. E quem tem
muito corpo, acaba por esquecer de sua razão. Ademais, o envelhecer
mesmo acaba importando em solidão. Filhos e netos crescem, se
afastam. A companhia acaba por se tornar mais amizade, e apenas o que
é verdadeiro permanece. Vejo eu porém ficando cada vez mais jovem.
O que antigos chamavam de elixir da longa vida, e parece que alguns
padres também encontraram intuitivamente essa poção. Fato é que a
fonte da juventude está em alguma forma de sublimação.
No
pensamento oriental há na linhagem dos brahmades a noção que o
homem se casa, tem filhos, e por fim na vida tem de estar sozinho. E
ficam voluntariamente, se afastando de esposa. Essa lá a casta mais
elevada. Talvez esteja o preparando para um paraíso onde não há
esposas. Fato é que isso está também descrito no livro Apocalipse
da Bíblia. Isso se contrasta com uma sociedade de prazeres e
conquistas. Vivemos para comprar e para nos satisfazer, no ocidente.
Então a solidão não é um problema, mas uma prova para o apego e
para quem não realmente se conhece. A companhia de Deus é a maior
companhia. Se mestres como Jesus, Buda, Krishna, Zoroastro e tantos
outros foram sozinhos, estranho condenarmos a solidão.
O
silêncio e a solidão podem ser uma cura. Na Bíblia, São Paulo
questionado sobre casamento, a respeito de mulheres sozinhas, disse
que elas eram esposas de Deus. O Alcorão diz que o casamento é
metade da religião. Mas nossa cultura pós-moderna exige muito para
que as pessoas se abracem ou tenham presença. O mundo virtual parece
com suas redes sociais ter gerado esse problema, e quem não agrada
aos olhos, é consequentemente deixado de lado. Mas não fosse o
tempo que tive em isolamento, certamente não teria escrito 32
livros, e sabendo tantas coisas. Todas as coisas reservam qualidades
e um lado positivo. Há muito casamento em crise e mentiroso. E nossa
sociedade gosta de de manter com muitas máscaras.
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