Poesias e quadros no shopping

Poesias e quadros no shopping Zipperer, até domingo

Enchente de cachaça





Seu José sonha com chuva de cachaça,
Por isso não se assusta com enchente,
Mesmo sem dente,
Tira rolha de garrafa,
Que racha e não quebra,
A alegria irresistível da graspa.

Cambaleando, andando de volta pra casa,
Dona Frida esperando,
Com panela na mão segurando,
Grita e se desgoela,
Pra acordar Seu José roncando.

Radio “véio” noticiando a tormenta,
O “véio” nem assim ressuscita,
Pois ainda na terceira garrafa não desistia,
E agora dorme feliz na separada caminha.
Não caminha sem valeta que o engula.

Desgraçado, trocou Frida pelo guarda-chuva,
Não mais abraça a pensionista,
Que na casa habita desolada,
Panela trocada, “chapér” na cabeça desmorona.
Frida não sabe o que fazer com o bêbedo,
Pois ele pensa estar em enchente de cachaça.

Seu José e Dona Frida, guarda-chuva e garrafa,
Amor que dura mais que em alto mar a ventania,
E que é forte como a rocha litorânea.
Cana é só mais um doce em sua vida,
“Se acostuma”... Diz Frida que não desanima.
E Seu José ainda sonha, pois o rádio anuncia,
Frente fria que se aproxima,
De cachaça em sua cuca.
O quadro na parede não desbota,
E nenhuma cachaça o derruba,
Pois amor mais embriaga,
Quando mais “véio” se fica.
(Mariano Soltys)





Solidão não existe




Solidão não existe, quando casinha se constrói,
E perto da pescaria, quando há tanque,
Conversa-se com peixe, que com boca aberta responde.
Estrada boa em que se caminha, poeira vermelha nos olhos dói.

Quem tem braço não desgruda do abraço,
Na terra simples todo mundo sente,
E demonstra na simples palavra ou ato,
O encontro de quem cedo ou tarde se une.

Abraço amigo sempre existe,
E não existe onde sim reina teimosia,
Mas ainda quem conversa sempre encontra.

Sorriso é porta aberta na terra seca,
Lago que mata a sede da alegria,
Solidão não existe, pra quem se anima com a tinta.
(Mariano Soltys)










Janela do olhar


Escura paz em tua janela, em teu olhar
Parece mar, sonhar, atuar, tocar
Se eu fosse sonho, estaria do outro lado
Da janela
Tramela
Vela
Navegando, nave voando, doando
Tua formosura é caridade de vista
Paisagem, passagem, pastagem
Janela
Teu olhar é vidro
Me corta o espírito
Transfixa, fixa, marca, cicatriza
Dor e prazer
Janela
Já nela, em toda a sua forma
Ela, de traje teutônico
Eu atônico
Atômico
Tônico
Janela e ela
Bela sem nome, transparente
Janela
Quebra: pedra: corta: aborta
Sou teu filho não aceito
Aquele amor que não nasceu
Cresceu
Janela do olhar
Decifra-me em teu reflexo, crucifixo
No peito
Assim acordo com teu olhar no escuro...
Pássaro passado

Pássaro que pousa na ventura,  se aventura no sossego
Pássaro, não passado
Em flor de ouro enfeitado
Joia que não desvaloriza, antes contempla
Pássaro que voa nos pensamentos
Mais sublimes, mais elevados
Floramarela que mescla em tinta prata
Azuleja meu quarto, azul que eu guardo
E por estar guardado em meu ser
Sei que não perco
Pássaro
Voo em tuas asas de pena
Sem penalidade, realidade, idade
Passado
Quero engolir as nuvens
Beber chuva até me saciar
Ser pássaro da serralta
Serrar meus olhos
Sonhar que o sorriso voa
Pássaro
Sou flor amarela, pétala coroa
Pássaro passado, já se foi.

                   Água doce e araucárias




És água doce que toca as margens do rio raso que é o meu amor e minha lenta correnteza...
Minha jangada gira sem rumo, eu sem remo, remo com as mãos, acariciando o rio,
Ó doce rio! Eu me perco no teu curso, mas quem disse que eu não queria estar perdido?
Eu morei na serra e vi as araucárias ao longe, eram as flores que presenteavam a doce água...

O chopp que bebia ao descansar tinha a espuma que na minha boca lembrava a macia água...
Eu, duro barqueiro, pescador sem anzol, sinto saudades da minha jangada leviana,
Porém, mais saudades, ainda, sinto da água doce que com suas margens tocava a minha correnteza.
Não afunde, não afunde! Jangada que me leva aos destinos mais sublimes da vida.

Os olhos das estrelas brilham na superfície da água cristalina, também os meus, fazendo brilhar.
A jangada joguei feito jaleco quando terminei a jornada, mas não acabou o jogo, acho,
Pois jogo vencido é jogo terminado com vitória, do contrário, não é vencido.

Ó, água doce que adoça o meu paladar seco por tua ausência, sem ti, eu sendo mero barro seco, por vezes...
Toda a vida que espalhas pelo teu rumo, não seria sem ti, pois és água doce que toca a margem do rio do amor,
Rio que segue seu rumo, sem fim, da nascente à chuva, da chuva à nascente, guiado pela araucária.















Comentários

  1. Além do filósofo que sempre foste tens te mostrado excelente poeta. Muito obrigado pela mensagem. Você deve cultivar todos os gêneros de acordo com a polivalência de seu gênio. Mas insisto, aquele jeito jornalístico e literaturístico de abordar temas filosóficos é o melhor de você. Quem sabe você não produz uns textos destes e coloca umas poesias pelo meio. Respeitosamente, CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Medicina Oculta – Comportamentos que geram doenças

Por que às vezes nos achamos feios?

Outra felicidade