Alegria simples e barata



            Vejo pessoas procurando felicidade, em todos os meios, até nos mais ilícitos e toda a sorte de confusão daí advém. Outros compram coisas caras, enfeitam-se de marcas, desfilam carros, fazem empréstimos muitos, confundem-se nas dívidas. Há quem ache a alegria passageira e parcelada algo como a chave da sua satisfação, esta logo em seguida coberta por grande frustração ou até arrependimento. Uma alegria que custa caro, muitas vezes é desnecessária, e mesmo a presença de Deus ou de um objetivo que alimente o sentido da vida faz dela uma estadia cada vez mais desejada em permanência. Parece estranho, mas a alegria é simples e barata, basta observarmos as crianças, ou mesmo pessoas humildes, que em serviços braçais muitas vezes cantam, gargalham, desenham um largo sorriso em suas faces.
            Já nos anos 300 antes de Cristo, um pensador grego chamado Epicuro achava que o prazer do seu corpo estava em comer um pedaço de pão e água. Não percebemos, mas na nossa vida tudo está envolto de prazer, mesmo nos atos mais simples, como alimentação, dormir, tomar banho. Passamos despercebidos frente a tamanho conforto e bênção divina a que convivemos no dia a dia. Trafegamos sem esforço, temos toda a tecnologia a nosso favor, vamos ao médico sem sofrer, ao dentista! Veja que para os antigos os dentes eram arrancados sem anestesia, que uma viagem durava dias a pé, ou mesmo a cavalo, que visitar o médico era preparar-se para sofrer. Não temos felicidade porque não queremos, porque inventamos mil atividades estressantes e não reservamos um tempo para ajudar nossos irmãos, o que seria motivo de muita alegria.
            Voltando a Epicuro, ele achava que o dinheiro estava apenas em terceiro lugar na felicidade. Em primeiro estaria uma reflexão sobre si mesmo e em segundo as amizades. Disse ele que não se deveria nem fazer um lanche sozinho, e vemos que os amigos nos trazem sim muita alegria. Com um refrigerante, um jogo de truco, um bate papo, temos por diversas formas alegrias que não requerem dinheiro, que não precisa muito preparo ou técnica. Epicuro tinha muitos amigos e forma fundadas comunidades em sua homenagem. A dança também poderia ser um ato de muita alegria, além de proporcionar muita saúde, apesar de o acesso a locais para tal se dê com ingressos, e muita gente não tenha um passo muito leve, apesar que todos podem dançar, desde que treinem. A terceira idade nos comprova a alegria através da dança, simples e barata.
            Cícero, um orador romano, disse que uma vida abandonada pela amizade não pode ter um aspecto muito risonho. Vemos que não são os lugares, nem posses, nem aparência, mas as pessoas com quem dividimos momentos felizes que nos fazem ainda mais alimentar a felicidade. A solidão leva por vezes a pensamentos mórbidos, a baixa autoestima. A amizade torna a vida mais leve. Não deve ser claro competição, pois esta revela a mesquinhez do espírito, e nem deve ser um modo de invejar o outro. A quem se aproveite da amizade para interesses pessoais, mas logo vem a tona a sua intenção. De certo modo somos espelhados naqueles que convivemos e atraímos o que somos, descobrimos logo nossa verdadeira natureza. Cícero dizia ainda que buscamos na amizade a lealdade. Mas acho que ele trocou de termo, era a felicidade que encontramos na companhia, talvez por sermos animais sociais, no dizer de Aristóteles.
            A felicidade apesar de nossa sociedade com suas mil redes sociais e virtuais, vem cada vez menos sendo conquistada, cada vez mais a epidemia da depressão assola nosso mundo. Há falta de Deus no coração, há falta de um irmão no coração, há falta de amor no coração. Não resta lembrar que a lição de Jesus está sendo descumprida. Quase todos os mestres espirituais defendiam uma ética elevada onde o outro era respeitado, onde a noção de que todos somos um era intrinsecamente  difundida. Uma amizade não pode ser comprada, o amor não pode ser comprado, nem Deus. É o homem em sua ilusão que acha seu pedaço de papel colorido a essência das coisas, quando vem o momento da crise e ele percebe que a felicidade era barata, que as coisas são mais simples, que é ser humano, onde o amor e a razão fazem a diferença, não o poder ou a força.  Mesmo sem essa ótica, a felicidade pode ser vivida, fazendo a vontade de si mesmo, mas não mudando a vontade dos outros, sendo um porta voz da liberdade.

Comentários

  1. Penso q a nossa vida é feita de pequenos momentos de felicidade... e são esses pequenos momentos q nos impulsionam a lutar por aquilo q sonhamos!! Abraço

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  2. oi Anônimo

    desconfio quem seja.. mas poderia colocar o nome embaixo.. isso sugeri ao Cléverson
    sobre a felicidade, é mesmo de pequenos momentos especiais... e isso é combuistível para viver.. eu digo ás vezes que invento minha felicidade... também depende do estímulo que temos.. abraço, seja sempre bem vindo e comente sempre

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