Qual o sentido de nossa existência

Qual o sentido da nossa existência?



            Assisti a um filme dias atrás sobre um grande filósofo: Friedrich Nietzsche, quando  este estava em Turim, nos seus últimos dias, filme nacional, pouco conhecido mas bem instrutivo e altamente inspirador, chamado “Dias de Nietzsche em Turim”. Além de perceber as belezas das obras de arte italianas, as óperas de Bizet, estátuas, jardins floridos, castelos etc, vi que a própria narração das cartas do pensador faz refletir sobre a existência. Uma pessoa pode estar curada e saudável fisicamente, mas não encontrar sentido em sua vida. Mesmo eu já passei por vários momentos em que me senti deslocado, sem popularidade nenhuma. Também quando escrevo me sinto póstumo, isso já escrevi em meu livro Reflexões Gerais, bem como em meu diário. Por vezes nos sentimos vivendo fora do nosso tempo, sem amigos, sem amores, sem fama, sem sucesso e assim por diante. O pensador do filme se sentia não alemão, não cristão, nada do que o envolvia parecia lhe agradar. Não raro pensadores que nem eu também têm essa profecia em seus espíritos. Qualquer pessoa questiona sua existência.
            Comentava com meu amigo Cléverson, sendo que ele me dizia que somente no futuro seremos reconhecidos, e, que também a nossa vida desde cedo foi direcionada para a introspecção. No geral o mundo não estimula a filosofar, antes estimula os sentidos e a consumir. Tivéssemos outra vida, fôssemos cedo ligados aos sentidos, as baladas, e todo o bacanal de oportunidades a que tem a juventude normal, certamente não iríamos ter uma filosofia que restaura metafísica, que ainda tenta quase exumar a essência das coisas. Pretendo em minha filosofia trazer um equilíbrio de comportamento, onde tanto as necessidades físicas quanto as espirituais tenham a sua relevância. No meu caso preciso reencontrar as necessidades físicas, mas a maioria das pessoas precisa reencontrar suas necessidades espirituais. Mas qual é o sentido da minha existência? Serei mesmo póstumo? Porque a vida parece às vezes sem sentido, sem estímulo? Porque algo me levou a filosofar, a gostar desses assuntos que quase ninguém mais gosta?
            A resposta parece que a vida não é para nos facilitar o ócio, mas para nos dar constante labor e levar-nos a uma evolução da consciência. Que valor eu daria ao amor se tivesse mil conquistas e pudesse descartar amores? Claro que em meus pensamentos existe uma exaltação do amor, principalmente na obra “Mistérios ocultos do amor”, pelo motivo da solidão que por uma década já havia me acompanhado, quando dos 26 anos, época que escrevi os ensaios que resultaram na obra. A minha existência, como de todas as pessoas, tem de ter um sentido, não é um ser para nada, um niilismo. Recentemente descobri que podia ajudar pessoas, mesmo escrevendo, e que qualquer apoio é válido, que basta um passo para que as coisas caminhem em um sentido, que mudem. Quanto a ser póstumo, acho que pela velocidade que a informação trafega hoje, pela Internet, não mais podemos falar de anonimato, uma vez que o nosso tempo é diferente de um Nietzsche, Kant, Voltaire, Montaigne ou mesmo outros, onde livros tinham de viajar em trens, navios e caravanas. Não há mais distância, basta ter um bom sistema de divulgação e busca, na Internet, e alguém pesquisando achará os pensadores de vanguarda de São Bento do Sul, SC, Brasil. Apesar dos fracassos da vida, sempre fui otimista. Mesmo na época em que estava sozinho no sótão de casa, sem dinheiro, recebendo críticas por não ter emprego, sem amor, eu escrevia no verso de folhas A4 meus ensaios, o que hoje está nos livros que publiquei, com mensagens de esperança.
            O sentido da nossa existência talvez não seja apenas curtir a vida, apesar de que isso é ótimo. Também não são apenas os outros que têm de nos dizer quem somos, mas o “outro” que está em nós mesmos que tem de ser nosso fã, pedir autógrafos todos os dias e nos paparicar. Uma filosofia demora a ser digerida, e a filosofia do comportamento está aí, ampliando e superando a da linguagem, que nos parece ser ainda o must no mundo. Ao tempo de Freud falar o que ele falava era chocante, de Marx, de Kant, e o divisor de águas, Nietzsche também. Na faculdade, com meus 17 anos eu lia muito esse pensador, apesar de não ser muito influenciado por todo seu pensamento, mas por parte sem dúvida. O filme fez lembrar muitas coisas, muitos momentos onde eu era apenas um menino sonhador, lendo mil coisas, admirando pensadores e hoje estando eu em seu lugar, sendo a voz do meu tempo, póstumo ou não.
            Sobre a morte, falei já em algum de meus escritos que quero uma festa em minha morte, não me importo com a tristeza em relação a isso, pois queria que fosse eu motivo de alegria, não de pesar. Já escrevi um poema onde me declarei em estado civil de viúvo de mim mesmo, e parece que assim me sentia. Mas qual o sentido de nossa vida? Todos temos um sentido, procure o seu. Sei que você gosta de alguma coisa, que sonha com coisas, que brilham teus olhos quando você faz o que gosta, descobre tua natureza e vontade. Não é apenas curar o corpo, mas curar o espírito. Vejo que não pisamos, ou acariciamos o mundo com nossos pés em vão, que somos deuses em miniatura. Sejamos a glória de nossa alegria, o prazer de nossos sentidos, a luz de nossa razão. Somos maravilhosos, perceba isso. Não há nada tão maravilhoso quanto estar aqui e agora, desfrutando o sabor de um alimento apetitoso na boca, matando a sede com uma água fresca, ouvindo o canto dos pássaros lá fora, o céu azul que mostra sua nudez entre o vestido das nuvens. Nossa vida tem sentido, ela é a própria comemoração pela vida, o próprio prazer em viver. Se o mundo acorda ou não para a verdade, isso é problema do mundo. Os poucos abnegados que conhecem a verdade já têm a fonte da juventude, a pedra filosofal que transforma qualquer metal em ouro, já encontraram a felicidade e sentido na vida. Sejamos nós mesmos, busquemos o que amamos e o amor nos dará sentido para viver, mesmo que esse amor seja em sacrifício, em algo que nunca nos recompense nesse mundo. Viver é bom em-si. Inventamos sentidos para a vida a fim de esquecermos que a arte que é a própria vida nos mostra sua eterna beleza, para uma eterna contemplação. Deus parece ter feito tudo perfeito, e somente a falha de nosso sentido ou intelecto que confunde e nos confunde, gerando o mal e o erro que nos afastam da maravilha que é viver. O sentido da vida é o mesmo das pernas: é servir a caminhar e andar para frente.  Quem não tem pernas se ajuda e se adapta, mas segue também em frente. Assim é para quem não acha o sentido de sua vida: ele está lá, é só se adaptar-se para chegar ao mesmo lugar dos outros.

Mariano Soltys
advogado e filósofo
autor dos livros “Fonte da Felicidade”, “Mistérios ocultos do amor”, “Reflexões Gerais” e  “Axiologia”.

Comentários

  1. Um dia escreveremos alguma coisa sobre os dias que passamos em São Bento do Sul. Dias de Soltys em..., seja lá onde for, a cidade fica importante desde que você esteja lá. Tempo no espaço e, neles, o importante ponto-totalidade que é o filósofo. Parabéns pelo texto doutor. Respeitosamente, CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

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  2. Que bela essa sua reflexão sobre o sentido da vida. Sou suspeita para comentar porque em pouco tempo já me tornei sua fã. Saboreio, essa é a palavra exata, tudo o que você escreve, costumo ler, reler, analisar, meditar e gostar muito de tudo que vem de você, uma criatura iluminada. Continue nos brindando com seus livros, suas poesias, seus textos, você é genial!

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  3. Mariano, acabei de fazer um comentário e não me identifiquei.
    Maria Helena

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  4. OI HELENA... FICO TAO FELIZ EM SER RECONHECIDO POR UMA PESSOA ESPECIA QUE NEM VOCE NO QUE ESCREVO.. E CONTINUE LENDO E ESPERO QUE MEUS TEXTOS TE SEJAM PASSATEMPO PRAZEROSO.. MAS TODOS ESSES ARTIGOS DESSE BLOG E DE OUTROS ESTAO REUNIDOS NUM LIVRO::: METAS PARA UMA VIDA FELIZ... E SEJA QUI CONVIDADA PARA ESSA ESTADIA NESSE BLOG POR MUITAS VEZES..ABRACAO

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