Carnaval e Cultura
Carnaval
e Cultura
Recentemente
discutimos sobre a situação cultural de nosso município, em uma
reunião que durou em torno de três horas, junto ao Conselho
Municipal de Política Cultural. Por coincidência, isso se deu com a
proximidade do Carnaval, que é a marca registrada de nosso país
internacionalmente, apesar de existir uma diversidade cultural bem
mais ampla. Pra falar a verdade, aqui no sul em muito o Carnaval se
torna mais um feriado, e momento para muitas famílias fazerem um
passeio. O Brasil vai mal, e muitos comemorarão com um meio sorriso.
Cortes em direitos de pensionistas, aumento da tarifa de luz, metade
de um país em oposição. Tudo isso faz com que se aproxime uma
Quaresma real, um momento de refletir.
A
cultura é o maior valor, e em especial sua diversidade. Nela que se
enquadram a vida, o momento histórico de uma civilização. O Brasil
começa em um Carnaval, onde ninguém parece de ninguém, como
retrata o livro “Casa Grande e Senzala”. Darcy Ribeiro também
fala que o brasileiro já não tem raça, que é uma espécie de
“ninguém”, tamanha a miscigenação. Em muito o país foi
povoado por deportados, e assim vemos que a situação de corrupção
não é estranha em um país que começa nesse sentido. Li
recentemente em um livro de Umberto Eco que disse serem os nomes
brasileiros impossíveis de serem encontrados em dicionários. Também
observou que não sabia identificar a raça nossa, observando a
mistura de índio, negro e branco. Mas aqui resta essa expressão
cultural: o Carnaval.
Conversei
com alguém que me disse ser o Carnaval um momento para se fazer
coisa errada. Pensei com meus botões se quem faz coisa errada no
Carnaval, não o faria depois, ou mesmo antes. Acho que minha
resposta já estava dada. Lembro de Platão, aquele filósofo grego,
na sua reflexão sobre a arte. Ele disse que esta tem uma finalidade,
e deve ser para estimular as virtudes da alma. Não basta se ter uma
arte pela arte. Isso vai em choque com muita expressão mais
comercial que cultural, ou mais imoral. Vemos assim que surge um
turismo sexual e que se faz vistas grossas a muito desse Carnaval.
Mas é uma expressão cultural lindíssima. Esses dias vi o filme
premiado, O Pagador de Promessas, e fiquei boquiaberto quando
começaram a festejar, misturar capoeira, carnaval e expressões
religiosas de nosso país. No filme havia o impasse em não se
deixar um homem que fez promessa a um orixá, Iansã, do Candomblé,
entrar na Igreja de Santa Bárbara, quando o símbolo era o mesmo. O
choque na verdade era cultural.
Assim
temos um Edital de cultura, de modo que espero os artistas nossos
aproveitem para fazer seu Carnaval, para comemorar seu dom e talento.
Nosso povo tem muita coisa bela e sei que podemos sim começar a
demonstrar isso. A diversidade regional, seja através de cultura
alemã, polonesa, italiana ou outras, tem importância ímpar a que
se preserve o patrimônio cultural. E patrimônio cultural não é
prédio, mas sim esses bens culturais que estão nas pessoas, e na
comunidade como um todo. Frente a muitas expressões da Indústria
Cultural e de marqueteiros, vejo que há sim a possibilidade de
qualquer artista fazer um projeto e angariar apoio municipal, a fim
de demonstrar sua produção artística legítima. São Bento não
seria São Bento, se não fossem nossos artistas e produtores
culturais.
Por
fim, o Carnaval aqui é meio tímido, mas temos muitas expressões
culturais ao longo do ano, e desde nossa Retreta, até várias festas
germânicas e polonesas, dentre outras, há sim o que se comemorar.
Frente a crise política atual, resta que esse valor estético esteja
cada vez mais atuante, e que a Cultura seja um valor. Não apenas a
cultura que aparece na televisão, mas a cultura de nosso povo,
daquele que faz sua obra com puro amor, dignidade, e muitas vezes por
pouco dinheiro.
Comentários
Postar um comentário