Virtude da alma e do caráter

Virtude da alma e do caráter




            Uma cidade para ser a melhor deveria buscar a justiça e ter na conduta de seus cidadãos atos pautados na virtude. Lendo um material em que era analisado Sócrates, percebi que qualquer filósofo, muitas vezes sem conhecer muito esse mestre grego, faz da sua vida algo baseado em uma regra moral comum já defendida pelo mesmo. Vivemos, por outro lado, em um tempo em que não têm vergonha nenhuma as pessoas de colecionar dívidas, traições, imoralidades e toda a sorte de atos desonestos, maquiados em “jeitinhos brasileiros” e coisas do mesmo quilate. Mas a virtude não é algo que se compra em shopping-center, nem se aprende de forma como uma imitação, mas vem do caráter, e caráter não se muda. Para tanto, parece vir da alma e mesmo de algo transcendente da vida do sujeito esse dinâmica virtuosa, e homens como Sócrates estão cada vez mais raros.
         Não é à toa que Diógenes, outro filósofo grego, disse procurar com uma vela na mão, em pleno dia, algum homem  de caráter bom, virtudes e que não fosse corruptível. Hoje teria de se colecionar velas e dias a fio, a fim de se encontrar um. Vemos pelos maus pagadores e devedores a revelação daqueles que não podem se designar como homens, talvez sejam animais um pouco mais evoluídos. Pecadores, pela mentira a que defendem ao prometer arcar com dívidas e não cumprirem a promessa. Por outro lado, vemos em pessoas simples e sem muito luxo verdadeiros Homens, e isso é um gênero humano superior, pois se prezam pelo justo e pelas virtudes, sem serem até moralistas. Os moralistas quase sempre são atores, estão representando algo, vestem uma máscara mais vantajosa para que consigam tirar uma vantagem do próximo.
         Sempre exagerei na forma a que tratei meus negócios e não fiquei devendo, não arrisquei muitas vezes créditos incertos e pagamentos a prazo, preferindo guardar o dinheiro para comprar algo, mesmo que de valor não expressivo. Também não contratei nenhum profissional, e agora contratarei até uma artesã para me fazer uma obra de arte para novo escritório, e até ofereci pagar adiantado. Fato é que de forma alguma a minha educação me leva pelo exemplo a ser inadimplente, e tenho nos meus pais exemplos de caráter. Não fiquei rico por causa disso, nem conquistei paixões ou fui famoso, mas passo cada fim de ano com o sentimento de uma consciência limpa ao dormir, meu travesseiro nem amassa, ao contrário das pessoas que viram ao contrário cada vez mais a regra em nossa sociedade.
         Vivesse Sócrates novamente em nossa época, estaria preso por ser honesto e por denunciar os desonestos, as injustiças, ou até mesmo morto. E Diógenes acharia um Homem, um Cléverson, um Mariano, um Luciano.. mas não mais que homens desse quilate, que são raros e honestos em seus atos. Fora homens como os que citei, a vela apagaria, muito raramente acharia um Patrick, e talvez seria só. Esses Homens com H maiúsculo, não pelos músculos do corpo, nem por causa de conquistas amorosas, pelos seus bens materiais, mas pela beleza do caráter, é que devem ser padrões sociais. Vemos as pessoas com ídolos desonestos, vestidos de ilicitude e vícios, e a TV e todas as modas pregam essa baboseira de fama, e cada vez mais pessoas até das mais comuns se acham super-poderosos em sua desonestidade. Jamais esses espíritos, a não ser após muitas vidas e arrependimentos, poderão fazer um trabalho puramente filosófico. Como Sócrates falou, que se encontrar um homem virtuoso, que o filósofo o siga como seu discípulo. Mas as pessoas inadimplentes que me referi nem para discípulos servem. Resta-lhes o ofício da escravidão e do peso da punição legal e mesmo cármica.
         O caráter bom se revela em atos onde a bondade muitas vezes ultrapassa a própria capacidade pessoal. Jesus é retratado por um de seus apóstolos numa situação onde uma viúva paga o dízimo com praticamente o que não tem, por ser pobre e depender dos outros – pois enquanto ela não tem e dá o que não tem (materialmente), supera aqueles que muito tem (materialmente) e na verdade não tem nada  (espiritualmente). Pois o que se dá para Deus e para a alma é a verdade, não o que se ganha enganando os outros, pois nesse engano está a perdição. Voltando a Sócrates, era um homem de simples vestes, que andava descalço, que não tinha roupas diferentes ao mudarem as estações. Jesus também revelou a alma das pessoas, o coração que partilhava de seu amor, de sua lei. Mas aqueles que não honram seus pagamentos novamente podem até colar um adesivo em seus automóveis, lembrando algum símbolo religioso, mas se mentem, se enganam, se descumprem seus batismos, não são cristãos. A virtude assim vem da alma e do caráter, e errar é aceitável, mas persistir no erro leva a denunciar a má-fé, onde o fim não é outro que uma certa “marca”, que levará a um “outro rebanho”. Pois quem faz sem o poder a pequena desonestidade, com o poder fará a grande desonestidade. E um homem virtuoso, por outro lado, deve ser glorificado em todas as épocas.

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