Filme Melancolia e personalidade feminina

Filme Melancolia e a personalidade feminina

            Nessa produção de Lars von Trier, que faz bem no seu estilo um cinema que se aproxima do cinema arte, de tal modo que vemos cenas fixas e a não preocupação com ação ou coisas corriqueiras que vemos no cinema comercial. Ao colocar o filme, achei que havia travado meu aparelho, mas era o jogo de cenas que na arte parecia estático, mas em verdade se revelava um resumo de todo o drama. Apesar disso, o filme foi lançado comercialmente, mesmo mantendo o estilo de filmagem de câmera solta no ombro, e às vezes parecendo algo amador.
            Aqui, de longe me pareceu de início uma revelação da personalidade feminina, no seu antigo ideal, o casamento, numa parte, e na outra parte uma vontade de fim do mundo, ou melhor, Eros em primeira parte e Anteros na segunda, pulsão de vida e de morte. O fim especial me lembra Shakespeare, e mesmo os contos que eu mesmo escrevo. O filme é realista e não economiza cenas para revelar a crise existencial de Justine.
            Ótimas fotografias, apesar de que vemos a computação gráfica, revelam ainda u ar bem luxuoso, da mansão ou castelo que é alugada para o casamento. Há um livro chamado “She: a chave da personalidade feminina” que revela bem essa dinâmica de uma existência para o casamento. Vemos assim o sonho se misturando com a realidade, ou melhor, a libido poligâmica se misturando com a fábula do amor perfeito, e a protagonista já trai o marido na festa de casamento, com um jovem que trabalha na empresa de publicidade onde ela é promovida. O casamento se revela em muitos imprevistos, atrasa, a limusine encalha, desencontros entre noivos, o bolo que e partilhado e a bebida para descontrair. O casamento é uma morte simbólica, uma iniciação para a mulher, ou, pelo menos era no passado. Ponto focal é a voz da mãe da noiva, que revela toda a farsa do casamento e do amor apaixonado.
            Na segunda parte do filme há mais uma vontade para o fim, e a protagonista já separada fica cuidada pela irmã. Lá ela enlouquece de vez e frente ao fim do mundo previsto, ela fica tranquila e realizada. Anda a cavalo, se deita nua em um bosque próximo ao aras. A bela atriz Kirsten Dunst também se revela o sonho da maioria dos homens, e isso parece se revelar na imagem de sua montaria. A segunda parte parece uma TPM. A sua irmã Claire fica desesperada pelo fim do mundo que se aproxima e tenta salvar o filhinho. Seu marido cientista diz que nada vai acontecer e por fim se suicida. As irmãs se encontram por fim e constroem manualmente uma cabana. O lar simbolizando o aconchego, e aqui apenas resta o lar espiritual, já que o mundo carnal terá um fim.
            Lars von Trier já é de longa data procurado por mim, e aqui nessa produção, e em outras, como o Anticristo, e ainda a Ninfomaniac (que parece mais uma chave da personalidade feminina...), se revela algo original e verdadeiro gênio, longe do cinema que cada vez mais fica enlatado e se vê como um grande labor de galpão, temperado com computação gráfica e enredo cada vez mais pobre, e temas clichês. Gostei de Melancolia por ser melancólico, por ser sincero em ficar triste nas horas certas. Há muito fingimento em nosso tempo, e as pessoas estão hipnotizadas pela necessidade de não passar por transformações, como a mulher em seu casamento, naquela morte simbólica, que ainda é acompanhada pelo nascimento do filho, posteriormente.   

Comentários

  1. Mariano: parece-me que o filme é rico na medida em que transmite uma mensagem empregável como lição de vida, de vida cotidiana e espiritual. Na verdade, a autêntica sabedoria sempre deve contemplar simultaneamente ambas as dimensões porque do ponto de vista ontológico são indissociáveis, exceção que só epistemológicamente consegue se concretizar. Parece-me, pelo que vc escreveu, que o filme valeu à pena mesmo. Lamento, talvez isto não seja por acaso traduzindo nossa humana limitação, que, diferentemente da Bíblia, as mais elevadas mensagens espirituais alheias à tradição judaico-cristã, não brotem daquele realismo que cinge a realidade. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

    ResponderExcluir
  2. Ja assisti esse filme lembra que te falei que era meio paia hsushaushuas

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Por que às vezes nos achamos feios?

Medicina Oculta – Comportamentos que geram doenças